sábado, julho 18, 2009

Madrastas e Enteados

Madrastas versus Enteados
Nos contos de fadas as madrastas assumem uma imagem maligna, estão sempre maquinando planos para tirar os enteados do caminho. Mas e na vida real, essa relação pode ser diferente?


Foto: reprodução
“Madrasta: Mulher casada em relação aos filhos de um anterior matrimônio do marido; Mãe pouco carinhosa; Mãe que maltrata os filhos”. Essas são as definições encontradas em qualquer dicionário de Língua Portuguesa. Em nossa sociedade é comum as madrastas terem uma imagem pejorativa, e muitas vezes, pode ser inserida na cultura do indivíduo desde a infância. É só citar os clássicos contos da Disney, como Branca de Neve e Cinderela. A primeira, por inveja da beleza da enteada, a vilã recorre a uma maça envenenada para matá-la. Na segunda história, a malvada madrasta obrigava a enteada a trabalhar em um regime de quase escravidão. Mas na vida real nem sempre é assim.

“Pele branca como a neve, cabelos negros como o ébano e os lábios vermelhos cor de sangue”, são características que fariam de Anna Karen, 19, uma perfeita Branca de Neve. Mas Rita de Cássia Guimarães, nem de perto é a madrasta má da história. Casada há um ano com o pai de Anna, Rita conseguiu aos poucos construir uma boa relação com sua enteada.

Anna Karen afirma que o primeiro contato não foi fácil. “O ciúme é inevitável, afinal cresci com meu pai e minha mãe juntos, e como todo o filho, não queria a separação”. A idade da nova madrasta, 27 anos mais nova que o pai, também representou para a enteada outro empecilho na aproximação. Mas para Rita de Cássia, essa diferença de idade facilitou a relação com a enteada depois de um tempo, já que quase se igualava com a idade da mesma. Com muita paciência e perseverança, Rita conseguiu superar a resistência da enteada. E como no final de um conto de fadas, se casou com o pai de Anna e ainda a teve como uma de suas “damas de honra”.

Outra enteada que está longe de ter uma madrasta da Disney é Anauara Maia, 20 anos. Depois da morte da mãe, em 2003, a jovem enfrentou muitas dificuldades. “Era muito difícil viver um dia após o outro, com três irmãs e um pai, de vez em quando alguém tinha que fazer o papel de mãe. E não é fácil”. Com a chegada da madrasta, Inácia Araújo, 39 anos, tudo mudou.

Assim como Anna Karen, a aproximação de madrasta e enteada foi um pouco complicada. “Fiquei com muito ciúme no início. Para mim era complicado o fato de alguém estar no lugar da mamãe, mas com o tempo vi que não era isso, e aprendi que ninguém substitui o outro”, diz Anauara, que hoje tem a madrasta como um referencial de vida e luta. A madrasta garante que a convivência e o tempo foram os fatores que mais contribuíram para que hoje as duas tenham uma relação de amor e cumplicidade. “Ajudamo-nos mutuamente, acredito que tenho contribuído para que cresçam de forma saudável, e tenho certeza que elas têm proporcionado que eu amadureça de forma grandiosa cada vez mais”.

A Intermediadora

A relação de enteados e as “boas-drastas” não são comuns apenas no universo feminino. Thiago Costa, 23 anos, conheceu sua madrasta, Hedra do Carmo, quando tinha 12 anos. Depois da separação dos pais, Thiago e seu irmão foram morar com a mãe. Mas depois de um tempo, a mãe optou por prosseguir com a carreira profissional, o que demandava muitas viagens, e os dois tiveram de ir morar com o pai.

A relação com o pai não era muito boa, “Eu sou muito parecido com o meu pai, e isso fazia a gente bater muito de frente”. No entanto, a entrada de Hedra na vida dos três homens, modificou muita coisa, não só a relação dos enteados com a madrasta, mas também de pai e filhos. A madrasta conquistou os enteados respeitando o espaço de cada um, com muita conversa e compreensão. Atuando no papel de mãe, Hedra sempre ajudou e cuidou de seus enteados, seja em questões escolares ou na relação com o pai. Thiago garante que a madrasta amenizou a relação que tinha com o pai. “Ela é a paciência dele”.

Respeito conquistado

Graziela Freire Vieira, psicóloga e professora da Universidade Católica de Goiás, afirma que as atitudes tomadas pelas madrastas acima, como respeitar o espaço que os enteados conquistaram em sua família, mostrar-se amiga e compreensiva, é de fundamental importância para construir uma boa relação com os enteados. “Além disso, os padrastos/madrastas devem demonstrar-se abertos para conhecer os enteados e para participar da vida deles”.

Para melhorar essa relação, é essencial que os pais tenham conversas abertas com os filhos sobre o assunto, e que ressaltem que os sentimentos não se modificaram com a presença do padrasto/madrasta. Os pais e padrastos também devem ouvir o que os filhos/enteados têm a dizer e respeitar os seus sentimentos. “Através de conversas, é possível eliminar falsas verdades e quebrar mitos que os filhos constroem a respeito do padrasto/madrasta.

A psicóloga também acredita que histórias infantis podem influenciar na visão que as crianças terão de seus padrastos. “Essas imagens fazem parte da nossa cultura, e o nosso comportamento também é influenciado por ela. Mas esta influência pode ser facilmente quebrada quando os padrastos/madrastas se mostram pessoas totalmente diferentes daquelas apresentadas nas histórias infantis”.

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Matéria de: Letícia Marina

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