quinta-feira, junho 17, 2010

Matrizes de energia - Cana de Açúcar

Cana de açúcar


Por Letícia Marina

A cana de açúcar é um dos primeiros produtos agrícolas produzidos no Brasil. A produção acompanha a época da colonização e segue até os dias atuais. O solo fértil e o clima tropical contribuem para o cultivo e o baixo custo de produção e alta produtividade. A partir do processo de extração obtém-se inúmeros produtos, dentre eles o etanol.

A cultura de cana representa muito em Goiás. Atualmente, há 120 projetos de usinas em Goiás. No entanto, apenas 33 estão em funcionamento. A característica desta indústria é a expansão por meios de latifúndios. A principal mão de obra utilizada neste setor são os trabalhadores rurais.

“É impossível prever as consequências da expansão do cultivo de cana de açúcar em Goiás”, declara Fauto Miziara, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Os impactos de um crescimento desenfreado realmente são difíceis de prever, no entanto, analisando dados e as conseqüências do cultivo pode-se imaginar um futuro próximo.

“É um dano ambiental e social muito grande”, diz a doutoranda em Geografia pela UFG, Adriana Aparecida Silva. O primeiro dano e o mais óbvio é a concentração de terras.

Como foi dito a princípio, a indústria necessita de latifúndios e com isso há uma concentração de terras nas mãos de poucos proprietários. Isso contribui para a desigualdade social no Brasil.

Outro impacto social grave é a mão de obra escrava. Os trabalhadores deste setor produzem em regime de escravidão, com salários baixos e muita carga horária de trabalho. Negociações com o Governo de Goiás garantiram aumento de 9% no piso salarial destes trabalhadores, que passará a ser de R$ 606,77. No entanto, ainda é muito pequeno considerando o esforço necessário neste trabalho. Outro aspecto que deve ser cobrado é a fiscalização.

“O que falta é a regulamentação. Goiás não tem um zoneamento ecológico ambiental”, afirma Miziara. A produção de cana no Estado gera grandes problemas ambientais e a falta de um órgão sério de regulamentação, como cita o professor da UFG, agrava estas questões.

A implantação da usina para a extração da cana de açúcar traz problemas semelhantes ao da construção de uma usina hidroelétrica, com o agravo de provocar a poluição da água potável na região, como cita Adriana Aparecida. Para irrigar e adubar a plantação é utilizado um composto gerado na própria extração do produto, a linhaça, que é extremamente tóxico.

A expansão das plantações pode causar outro grave efeito, a perda do bioma natural. O Cerrado é o 2º maior bioma brasileiro e 97% do Estado de Goiás está inserido neste território. O cultivo descontrolado pode gerar a extinção de fauna e flora desta região.

“É muito fácil transformar um bioma em um solo de plantação. Já a área degradada em Cerrado é muito complicado”, diz Aparecida. A doutoranda afirma que o dano ambiental e social desta construção é muito grande. A microfauna da região pode morrer ou se locomover para outro lugar, o que pode gerar um desequilíbrio ambiental.

Além de perder as características naturais, o solo em que se planta a cana de açúcar ainda pode se tornar arenoso. O que não deve ser confundido com desertificação, já que este processo não está ligado à mudança climática, e sim de depósito de sedimentos que dificultam o crescimento de nova vegetação.

Por fim, mas talvez a pior conseqüência da plantação de cana de açúcar, os entrevistados citam as queimadas. A indústria utiliza o fogo na limpeza do terreno para o cultivo de novas plantações. “A capacidade de expansão do fogo é muito grande”, afirma a professora Adriana Aparecida.

Além da possibilidade da queimada se espalhar e tomar proporções maiores, ainda deve-se levar em conta a grande quantidade de fauna e microfauna que é extinta neste ato. A doutoranda cita ainda as conseqüências que o fogo pode causar na população. “Ocorre a contaminação do ar. A fuligem vai permanecer na atmosfera”, garante.

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